domingo, 26 de maio de 2013

Reflexões de um recém falecido


Olá. Pois é, acabei de morrer. Não vi túnel de luz e nem nada do tipo. Simplesmente acabei aqui neste estádio esportivo. Não é o Maracanã e nem sinto cheiro de superfaturamento ou algo assim. É simplesmente um pequeno estádio em que as cadeiras são legais e tem um monte de gente conversando. Algumas estão de pé e outras sentadas. Mais parece uma arquibancada de uma escola em que os adolescentes tem um monte de coisas para contar umas para as outras. O dia está lindo, com a temperatura amena.

Nem estou vendo jogo algum acontecendo. Estou sentando neste momento olhando para o nada. Engraçado, pois eu me vejo e vejo os outros. Algumas pessoas eu conheço e outras não. Vejo meu amigo João, igual a mim, olhando para o nada. Porém sei o que ele pensa: "Nossa, Pedro se foi. E ele era mais novo do que eu. Será que está chegando minha hora ? Tanta coisa ainda para viver. Coisas que sei e outras que nem sei ainda. Será que ainda..."

Olhando com mais detalhe, me parece que todos que eu conheci estão lá. Pessoas que tiveram um papel importante na minha vida. Pessoas que conviveram comigo, mas pouco as conheci. Até pessoas que eu via todo dia mas nunca falei. Pessoas que nem se conheciam, conversavam em tom animado. Parecia um grande encontro de amigos.Haviam pessoas que eu nem me lembrava de ter visto alguma vez na vida.

Não entendo porque estou aqui. Afinal, nem gosto de esportes assim. Bem, se fosse para ser um evento esportivo, então deveria ter sido no Havaí. Mas, vá entender. E aquela estória de umbral e lugares sombrios com pessoas vagando e sofrendo? Passei no teste final e escapei da recuperação ?
Lembrei daquela piada em que o cara morre e  pode escolher entre um grande gramado com pessoas de branco (o céu) ou uma boate cheia luxúria e animação (inferno). Mas por esta aqui não esperava.

Me vem aos poucos uma percepção, a de que da vida você leva memórias das pessoas e não das coisas e dos lugares. Elas são o que realmente importa. As relações que tivemos ou que não tivemos é o que importa. O resto, é só pano de fundo. Interessante notar que há uma infinidade de pessoas que são possibilidades. Cabe a nós trilhar o caminho que leva a elas ou não. O emaranhado de nossas escolhas nos levam a caminhos diferentes para pessoas diferentes. Há pessoas ali naquele estádio que eu nunca encontrei na minha vida. Pessoas que não cheguei a conhecer pelas escolhas que fiz. As vezes as escolhas nos levam a alguém que vimos a muito tempo em nossa vida e até a esquecemos, mas a encontramos tempos depois, quando achamos que somos até uma pessoa diferente do que éramos. Enfim, parece um grande evento, uma peça de teatro, em que todos tem papéis a desempenhar, porém os papéis são dinâmicos e mudam conforme as circunstâncias.

Não estou triste, apenas reflexivo, tentando entender o que é a vida afinal.

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